Professores do curso trabalham no Centro Socioeducativo Santa Helena, onde os adolescentes estão acautelados: um é o diretor de segurança e o outro o educador de Matemática
Santo de casa faz milagre, sim. No Centro Socioeducativo Santa Helena, localizado na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, os dois professores do curso de “Eletricidade Predial de Baixa Tensão” são servidores no centro socioeducativo onde acontecem as aulas. Seis jovens de 16 a 18 anos compõem a primeira turma do curso e recebem elogios pela dedicação, interesse e rendimento nas aulas e avaliações.
A capacitação teve início em agosto e termina na próxima sexta-feira (6/9). São 24h/aulas divididas entre parte teórica, voltada para os conceitos de eletricidade, circuitos e instalações; e parte prática, em um laboratório montado com material doado pela Vara da Infância e Juventude da Comarca de Belo Horizonte, por meio da juíza Riza Aparecida Nery. São eletrodutos, condutores, fita isolante, cabos, disjuntores, quadros de distribuição, interruptores e outros materiais indispensáveis para o aprendizado dos jovens.
Para quem ocupa uma função responsável por cuidar da segurança de um centro socioeducativo, como o diretor Carlindo Nepomuceno, formado em Técnico em Elétrica, a alegria de conquistar o interesse dos alunos pelo conhecimento é algo impossível de disfarçar. “Eles estão superando todas as nossas expectativas. As 24 horas aulas previstas devem chegar a 40, pois muitas vezes elas se estendem por mais duas horas, por demanda dos próprios jovens”.
Roberto Franklin*, 18 anos, é um destes jovens empolgados com o curso. O fato de ter um tio que trabalha com elétrica predial, além de estar próximo de finalizar o cumprimento da medida socioeducativa, o deixa ainda mais animado com a formação profissional. “Toda a minha família está sabendo e já tenho um lugar garantido para trabalhar com meu tio. Vou sair daqui com a mente melhor”, relata o jovem.
Normalmente temida pela maioria dos estudantes, a Matemática não assusta estes jovens alunos, garante o professor Anderson Lopes. São sete anos de trabalho no segundo endereço da Escola Estadual Dr. Aurino Morais, da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, instalada dentro do Centro Socioeducativo Santa Helena. “Eles descobriram a importância do conhecimento, de como amplia os horizontes. Já me disseram que se tivessem tido uma oportunidade como esta antes, não teriam ido para o crime”, conta o professor.
Laços
A diretora-geral do Centro Socioeducativo Santa Helena, Carol Veloso, destaca a importância de ter profissionais da unidade à frente de uma iniciativa educacional e de qualificação profissional, como no curso de eletricista predial. “Isto faz toda a diferença, reforça os laços dos jovens com nossa unidade e traz resultados concretos.”
Exemplo disto, são quatro jovens que já passaram pelo Santa Helena e conquistaram vagas no mercado de trabalho com a experiência adquirida em oficinas de profissionalização oferecidas pelo centro socioeducativo. Os jovens em questão fizeram cursos de garçom, inglês, barbeiro e gastronomia e, hoje, são funcionários de empresas de prestação de serviços - uma churrascaria na Região da Pampulha e um hotel no Centro de Belo Horizonte - ou abriram seu próprio negócio: uma barbearia e uma pizzaria delivery.
“O jovem que abriu a pizzaria esteve aqui para nos visitar recentemente e contar as novidades. Comprou equipamentos com a família e montou em casa uma estrutura para produzir as pizzas. Isto nos deixa orgulhosos, é sinal de que estamos conseguindo atingir os principais eixos das medidas socioeducativas, como formação profissional, educação e laços familiares”, explica a diretora.
A direção geral do centro socioeducativo e toda equipe de atendimento planeja oferecer o curso a cada três meses, e não faltam jovens interessados. Em visita às instalações do Santa Helena, durante a realização desta matéria, três jovens pediram à diretora para participar do próximo curso.
* O nome é fictício para preservar a identidade do adolescente, segundo determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Texto: Bernardo Carneiro
Fotos: Dirceu Aurélio