Unidade prisional foi a única selecionada para participar da capacitação, que será realizada também em outras três cidades de Minas Gerais. Projeto é uma parceria do Instituto Boa Esperança e o Banco do Brasil
Colocar uma semente na terra, ver o broto germinar, a planta nascer e crescer, e colher seus frutos. Algo que para muitos é tão simples tem enchido de alegria e orgulho as presas do Presídio de Eugenopolis, na Zona da Mata. Quinze detentas da unidade participaram, entre os dias 18 de março e 11 de abril, do projeto “Quintais Produtivos – Mulheres em Redes de Colaboração Solidária, Alternativa que gera Vida e Renda”, do Instituto Boa Esperança em parceria com o Banco do Brasil. A unidade prisional foi a única selecionada para participar da capacitação, que será realizada também em outras três cidades de Minas Gerais.
Desde sua inauguração, em 2015, o presídio investe no cultivo de hortaliças, que são colhidas e distribuídas para instituições de caridade do município, como o hospital local, Apae, creche municipal e asilo. O curso recebido pelas presas aprimorou ainda mais o trabalho feito, além de diversificar a produção de alimentos. Elas aprenderam também técnicas para cultivo de plantas medicinais e árvores frutíferas. No total, a capacitação teve carga horária de 80 horas, divididas em aulas práticas e teóricas.
Segundo o diretor adjunto, Antônio de Almeida, a unidade conta com duas hortas, num total 3.800 m², que semanalmente doa mais de 20 kg de alimentos para as instituições. “Receber esse curso aqui foi muito bom para o que nós buscamos fazer aqui, ou seja, ajudar as detentas no processo de ressocialização. Dar a elas condições para ver a vida sob uma nova perspectiva, percebendo que nem tudo está perdido. Proporcionar uma chance de mostrar que elas têm capacidade, que podem mudar, trabalhar e ajudar suas famílias”.
O projeto “Quintais Produtivos – Mulheres em Redes de Colaboração Solidária, Alternativa que gera Vida e Renda” tem por objetivo contribuir para a promoção da autonomia econômica de mulheres. Além das técnicas de cultivos que são de fácil replicação, a capacitação também proporcionou orientação sobre a produção de compostagem, defensivos e fertilizantes naturais. A iniciativa está alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Pâmela Cristina Chaves, 26 anos, cresceu no campo, mas nunca se interessou em trabalhar na horta da família. Foi no presídio que teve a oportunidade de, enfim, por a mão na terra, o que a mudou completamente. Ela se emociona ao lembrar como isso aconteceu: “Hoje eu me sinto feliz, leve, agradeço a Deus todos os dias por ter tido essa chance, só Ele sabe como isso me transformou. Me considero uma nova Pâmela, cuidar de algo, ver crescer e saber que fiz tudo isso com as minhas mãos, é indescritível. Aprendemos muito, coisas que inclusive podemos fazer lá fora e ganhar um sustento, como a conserva de pimentas”.
Agroecologia
O curso foi baseado na Agroecologia, com o ensino de técnicas para produção de alimentos orgânicos, sem uso de químicos. Antes do início das aulas, a professora Crisângela Elen de Souza esteve no local para conhecer a área e as demandas do presídio, de modo a adequar a capacitação à necessidade do local. Ela é formada em Geografia, com especialização em Plantas Medicinais, trabalha com agroecologia e é monitora de extensão na Universidade Federal de Viçosa (UFV).
As primeiras aulas buscaram resgatar das presas as práticas cotidianas que elas estavam acostumadas. Outro diferencial era que, diariamente, professora e alunas falavam sobre receitas com plantas medicinais usadas por elas e por seus familiares, que acabou na criação de uma cartilha. Para além das aulas, foi estabelecida uma relação de confiança mútua entre estudantes e professora.
Durante o curso, a professora percebeu uma dificuldade com aquisição de mudas. A partir disso, surgiu a ideia de ensinar técnicas de produção de mudas e a criação de dois viveiros. A iniciativa contou com o apoio da empresa Agrocinco, que doou sementes de hortaliças e legumes para a produção.
Crisângela conta que sempre quis trabalhar no sistema prisional e que foi uma grande realização levar seus conhecimentos para dentro de um presídio. “Foi uma das melhores experiências da minha vida como professora. Eu aprendi muito mais que ensinei. Conversei com as alunas sobre outras perspectivas de vida para que elas não voltem para o crime. Cada sorriso que davam cada empolgação em aprender, só me enriquecia.”
Por Fernanda de Paula
Fotos: Divulgação Ascom