Expectativa é a confecção de mais de 130 mil itens por mês; projeto Liberdade em Ciclos, desenvolvido pelo sistema prisional do Estado, é financiado pela Loteria Mineira
Trinta custodiadas do sistema prisional mineiro estão produzindo absorventes higiênicos e fraldas descartáveis para bebês e idosos. O projeto intitulado Liberdade em Ciclos é uma parceria entre o Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) e a Loteria Mineira. Os itens estão sendo produzidos na Penitenciária de Belo Horizonte e no Presídio de Timóteo, no Vale do Rio Doce. Os absorventes serão destinados para unidades prisionais femininas, escolas públicas e demais instituições que atendam adolescentes e mulheres. Já as fraldas geriátricas irão para creches, asilos e hospitais.
A ideia surgiu após o grande sucesso da produção de máscaras contra a covid-19. O projeto foi idealizado pelo diretor-geral do Depen-MG, Rodrigo Machado e pelo diretor de Trabalho e Produção, Paulo Duarte, após saberem que uma em cada cinco meninas deixam de ir à escola por não terem absorvente. “Durante a pandemia conseguimos ajudar muitas instituições com as máscaras feitas por presos de unidades prisionais – foram produzidos mais de oito milhões de itens. Então, pensamos que podíamos usar essa mão de obra para produzir absorventes e ajudar tantas meninas que têm dificuldade de acesso a esse item. O sistema prisional e seu trabalho podem contribuir de forma muito significativa com a sociedade”, afirma Paulo.
A expectativa é que sejam produzidos dentro das duas unidades prisionais 132 mil itens por mês, divididos igualmente em 66 mil absorventes higiênicos e 66 mil fraldas descartáveis. Quinze presas da Penitenciária de Belo Horizonte terminaram a capacitação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e, desde o dia 18 de julho, produzem os materiais em larga escala. Agora em agosto foi concluído o treinamento no Presídio de Timóteo com outras 15 presas; a capacitação teve duração de duas semanas.
No treinamento as internas aprenderam a manusear as máquinas e, também, todos os detalhes da produção dos itens de higiene, com foco em qualidade e rapidez. O investimento no projeto é da Loteria Mineira e o custo total de implantação, incluindo maquinários e insumos, foi de R$2,6 milhões. O Poder Judiciário também foi parceiro e injetou R$63 mil, que foram utilizados na compra de parte do maquinário. O trabalho de produção acontece de segunda a sexta-feira, ao longo de oito horas diárias.
A proposta da parceria com a Loteria Mineira foi recebida com muito entusiasmo pela autarquia, que já se disponibilizou a expandir o projeto e investir em outras iniciativas do tipo. “A Loteria Mineira tem como finalidade, gerar recursos e destiná-los à promoção do bem-estar social. E constatamos isso em visita técnica realizada na oficina de Belo Horizonte. Vimos que esses recursos promoverão muito mais do imaginávamos, já que as detentas envolvidas no processo de produção das fraldas descartáveis e dos absorventes higiênicos demonstraram empolgação com a atividade, não só pela remição da pena, como também pela possibilidade de elas produzirem o material quando estiverem em liberdade e fazer da atividade uma profissão” conta o diretor-geral da Loteria Mineira, Ronan Moreira.
Stephanie Soares Barbosa é uma das presas que trabalham no projeto. Para ela, poder fazer parte da iniciativa, é algo engrandecedor. “As outras detentas e eu estamos muito felizes em estar aqui trabalhando e fazendo os absorventes e as fraldas. Estamos muito gratas pela oportunidade de aprender uma profissão e contribuir com essa ação que alcança tanta gente. Poder ajudar as pessoas e poder ajudar a mim mesma é muito gratificante” conta Stephanie.
Além das instituições públicas estaduais, como escolas, as ONGs e instituições filantrópicas que receberão o material são da área da saúde, educação e assistência social. O objetivo do projeto é combater a pobreza menstrual, apoiando comunidades carentes, mas as ações também vão proporcionar redução nos gastos públicos do Governo Estadual. Vale ressaltar, ainda, que além da capacitação e profissionalização, as detentas envolvidas no projeto terão remição de pena, quando a cada três dias trabalhados, um é reduzido da sentença.
Texto: Fernanda de Paula
Fotos: Bernardo Carneiro/Ascom - Sejusp